domingo, 18 de fevereiro de 2018

Desvelar o silêncio

O silêncio é como tuas mãos,
Suave e delicado, desliza
Marcando o tempo dessa saudade,
Evocando minha tempestade,
Deixando a sequela imprecisa
Do próprio silêncio e das mãos.

O silêncio é a minha mão boa.
Perdoa, se as palavras não saem,
Se as palavras não consentem
Atrapalhar o que dizem teus olhos
Que eu sei que não mentem;

Perdoa
Se as palavras não salvam
Nossa ferida aberta
E nem mesmo as palavras mais bonitas
Nos puderam salvar de uma morte certa.

Eu contemplava o silêncio,
Naquela época, e sabia
Que ele já não nos cabia,
E eu estava errada em lutar até o cansaço
Contra a tua paz
E o teu espaço.

A morte também mentia.

Velar nosso silêncio,
Por todos esses dias
Foi como o limbo de tudo o que existe
Como a venda que esconde a mudança.

Desde quando tudo estava bem,
Éramos outros,
Até quando não estava,
Éramos outros,
Até quando já nem existia,
Éramos outros,
Até quando o silêncio se impregnou por tudo:
Teus olhos, tuas mãos, tudo o que não mente,
Já éramos outros
Maiores em aspectos particulares,
Apenas éramos
Nossos aspectos particulares
Velando o silêncio para fingir que estava tudo bem.

De tudo o que minhas mãos sentem
Ao tocar as tuas,
Feito algo maior que só duas
Fica a certeza
De que teus olhos não mentem.

Fomos tantos outros
E a certeza de que há algo que nunca mudou
Tenta tanto em palavras se impor,
Quebrar esse véu do silêncio, e não posso,
Me sairia tão impreciso
Porque tenho visto tão pouco do teu sorriso
E tanto do teu amor.

Não quero atrapalhar nenhum dos momentos em que eu te vejo só para dizer que doeu muito e agora não dói mais porque eu sei que apesar do silêncio, você não me engana, e eu sei que você vai continuar aqui.

O silêncio mente.
Teus olhos, tuas mãos e teu jeito, não.