segunda-feira, 25 de abril de 2016

Haciaré

Hasta el cielo
Hundirse a la cabeza,
Hasta el morir del pensamiento que me
                    [empieza,
Pensaré.
Hacía marcarme el viento,
Libre como soy hacia el cuerpo
Y fijo hacia mi cabeza.

Hasta los infiernos
Hundirense a mis pies
Como las raíces de los cerezos míos
A doler en mi fuego de colores fríos,
Me solerá el tiempo,
Me lunara todo lo que existe,
Todo lo que es daño,
Todo lo que extraño.

Soñaré,
Firmaré.

Hasta el cielo
Hundirse a los infiernos,
Haciaré.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Bis Morgen

O passado é estático.
Eu não creio no futuro,
Nem em qualquer projeção estética
Nem surrealismo imprático.
Bis Morgen,
Depois de agora existirá o limbo.

A gente não tinha coesão,
A ferida se abria,
Eu só não queria
Dar os pontos,
Por suas abrangências,
Nem vírgulas,
E dei reticências.
O chamado soou, eu tinha um pé no
                    [barco,
Vi a espuma confusa em meu Leviatã.
Bis Morgen, pensei,
Eu não acredito no amanhã.

Eu queria um jeito de garantir
Que aquele corpo era seguro,
Que havia futuro.
Eu sabia as respostas,
     (Você não vai me dar tchau direito?)
Eu virei minhas costas,
E quando me dei conta de que seria a
                    [última vez,
Aquele corpo inseguro,
O meu porto perjuro,
Andava de costas, vestia uniforme
E eu não tenho uma última lembrança
Daquele olhar.
Quando me dei conta e virei para trás,
Disse o corvo: nunca mais!
Bis Morgen, tive raiva e não disse.

Nunca disse nada:
A tristeza,
O desconforto,
A saudade,
E como se nunca tivesse amado,
Eu não disse.
Eu não acredito em futuro que não o
                    [torpor.
Bis Morgen, todos os dias adiando a dor
Transformando em limbo a solidão
Que habita o torpor entre o meu passado
E a minha paixão.

O presente é vivo e inadiável.
Deixa o futuro que te aborrece ser menor
                    [que o meu abraço.
Você nunca vai apagar a minha dor,
Mas a tornou pequena,
Quase amena,
Inferior.
Me ajuda a retribuir, porque quero dizer:
O amor existe,
Eu te amo,
Como se nada nunca fosse triste
Desconfortável,
Nostálgico.
Me diz: Bis Morgen, mein Herz,
Porque vai ser um limbo viver sem você
                    [até amanhã.

E vou dizer tudo,
Vou dizer desesperadamente,
Porque sinto demais,
Ressinto demais
E não quero sentir muito:
Eu te amo.
Vou sentir sua falta todos os segundos
Até que chegue uma nova manhã.

Toda vez que você vai embora
O tempo não passa,
E se até ele que é todo sente essa saudade
                    [fatal,
Que faço, se sou só eu,
Jaz-viva mortal?

Toda vez que você vai embora,
Bis Morgen, mein Herz.
Você me faz ter esperança no amanhã.

terça-feira, 5 de abril de 2016

O altar de carne

   Lúcia sentou-se em frente ao seu melhor amigo. Havia caminhado na brisa fria e deliciosa da manhã para vê-lo, vez ou outra desviando da garota fina e gelada. Carregara até seu local preferido da cidade uma barra de seu chocolate favorito como uma procissão carregaria a hóstia.
   Agradecia a presença do amigo, ele fora testemunha de sua vida. O crescimento, o amadurecimento, as camélias que caíam. Suas dores todas foram choradas frente às pernas cruzadas e pacientes, intocáveis para ela, mas acolhedoras. Ele fora testemunha de todos os amores que valeram a pena, e fora o colo a quem Lúcia recorreu toda vez que seu vestígio de esperança morria.
   (Da última vez, estava frio. Lúcia tremia. O amor era triste, o dia cinza, azul. Se prontificara a pedir ao grande amigo curandeiro algum tipo de amparo que a fizesse sentir melhor.
   Estava frio. Lúcia queria um abraço quente e confortável; a abstinência pariu um poema.)
   Sentou-se na mesma pedra em que sentara no último dia em que pediu consolo; a barra de chocolate jazia em seu colo. Como uma oferenda, abriu a embalagem acima da cabeça.
   Tinha a plena consciência de que a própria existência era reflexo manifesto da una vontade universal. E assim como todos os lugares e todas as coisas e todas as pessoas são feitas de matéria que flui hora ou outra de uma existência a outra, fez, como faria a algo que significava o próprio significado, a oferenda à vontade obscura e subconsciente de seu eu.
   (Houve uma noite triste em que estivera naquele lugar só e apenas a existência do amigo bastou para que soubesse que só tinha a melhor companhia.)
   A primeira mordida que deu no chocolate preencheu toda a cavidade da boca, passeando e estimulando as papilas gustativas com a intensidade suficiente para que Lúcia fechasse os olhos e deixasse que apenas o chocolate existisse, e depois, que corpo e chocolate e o local e a mente e o melhor amigo (que era parte da mente) se tornassem um.
   Enquanto comer fosse a vontade e chocolate fosse o que a satisfaria, Lúcia deixou que o corpo inteiro fosse a vontade, e comeu amando o leite e o cacau e a fábrica e todos as outras variantes desconhecidas que tornavam possível aquele comer erótico do qual o chocolate foi feito vítima.
   E naquele momento, o chocolate se fez o melhor amigo, e guardião de suas mágoas e seus amores e sua magia, e o chocolate foi testemunha de toda a informação mnemônica que caracterizava Lúcia como uma existência aparta do todo.
   Lúcia deixou que a carne fosse o altar, e o chocolate a oferenda, e a oferenda, carne, e a carne, deus.