Hoje eu queria tocar esse rosto sem nome
Que me encara todas as noites
Deitado no meu travesseiro.
A verdade é que estou exausta,
E a presença de um rosto me incomoda.
Se relaxo, aceito-o,
Seu volume imaterial,
Sua forma inexistente,
Sua energia,
Quente.
Deste rosto sem traços,
As sobrancelhas são grossas
E sei que tivesse eu a coragem de tocá-las,
Reagiriam a ponta de meus dedos,
Esparramando-se,
Feito um corpo cansado ao sofá.
Imaterial, mas pesado ao colchão
E travesseiro e costas,
Deslizariam as mãos
Pelas faces serenas,
E a medida que tento acariciá-las,
Me frustro porque me afasto.
Quente, mas incapaz de cauterizar minha ferida,
E apenas frio o suficiente
Para queimar, mesmo ausente.