segunda-feira, 17 de abril de 2023

Ninguém

 Hoje eu queria tocar esse rosto sem nome

Que me encara todas as noites 

Deitado no meu travesseiro.


A verdade é que estou exausta,

E a presença de um rosto me incomoda.

Se relaxo, aceito-o,

Seu volume imaterial, 

Sua forma inexistente,

Sua energia, 

Quente.


Deste rosto sem traços,

As sobrancelhas são grossas

E sei que tivesse eu a coragem de tocá-las,

Reagiriam a ponta de meus dedos,

Esparramando-se,

Feito um corpo cansado ao sofá.


Imaterial, mas pesado ao colchão

E travesseiro e costas,

Deslizariam as mãos

Pelas faces serenas,

E a medida que tento acariciá-las,

Me frustro porque me afasto.


Quente, mas incapaz de cauterizar minha ferida,

E apenas frio o suficiente

Para queimar, mesmo ausente.

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