quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Geada antiprimaveril

As borboletas voavam longe.
Feito nome de anjo se ouvia
A dança alegórica semiaustera
Anunciando à ventania:
Vem chegando a primavera.

Aos votos que sobe o sol
Ao doce alvorecer
A vontade do oceano
Se vociferou de florecer.
Seu nome é de demônio, insistiu,
Água mole em pedra dura
Tanto bate até ceder.

Eu sou assim:
Toda corpo,
Toda cor,
Encorpando ao feitiço
O acordo omisso na minha dor.

Inverno após inverno,
Passa o tempo e eu sentada
Esperando florecer.

Mas sou assim:
Toda a torto,
Toda ator,
Incorporando meu grito omisso
Em todo botão de flor.

Meu coração é assimétrico,
É assindético,
Sintético, sem nexo,
O meu corpo, convexo,
E o plexo,
Meu cemitério de borboletas.

Só sei amar e escrever.
Misturam-se em meu sangue
Esse não saber tão pulsante
Entre a ferida aberta berrante
Que me faz aberração.

Era mais fácil quando eu só sabia escrever.

Vou ouvindo o oceano
Engolir a primavera,
Digerir as borboletas,
Ainda não é tempo.
Agente do meu aparto esbanjo
É meu nome de anjo afastado ao eterno
Do segundo primeiro dia de inverno.

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