segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Lágrimas de uva

Uma silhueta se deixa derramar sobre a
                   [minha parede dos fundos.
É inesperada,
É desesperada,
É desumana.
Trôpega ao inequilibrar suas formas,
É uma silhueta narcisina,
E invasiva
E masculina.

Um ego mimado,
Arquetípico,
Arquejado,
Arrastando-se de sombra em sombra na
                   [minha parede
Narciso inconciso,
Cansado
E com sede.

O álcool na minha boca não é licença
Pra sombrear-se esse vulto alcoólico
Fedendo ao vinho mais barato da
                   [dispensa.
Nem a necessidade de barulho
Do disfarce maltrapilho,
Pedante,
Insignificante
É mais importante que a paz do meu
                   [silêncio.

É vulto de amor barato,
Destroçado,
Distorcido,
Chorando suas lágrimas de uva
Feito estanco
Vertendo podridão
No meu tecido branco.

Esse amor insatisfeito, invasivo,
                   [imperfeito,
Não é amor,
É projeção que se esconde,
É sede,
É um vulto atirado
À minha parede.

Não vou assumir sua taça
Desprotegida,
Estilhaçada,
Espairecida
Como se amor significasse a sombra
Ou significasse cada lágrima derramada
Ou significasse,
Ma(i)s nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário