domingo, 12 de janeiro de 2020

O templo

Não tenho coragem de abandonar o templo.
Pela união
Dos vitrais iluminados,
Dos outros vitrais, escuros, escassos,
Que jazem na paz de seus estilhaços
Se narra a divina tragédia
Dos atos de mim.

Nos altares, trovo palavras ressentidas
Às minhas musas incompletas
Que ainda lamentam o templo
Como fossem musas proibidas
E vejo, de seus rostos, a escolta
Desejando que me vissem
De volta.

Não dá.
As paredes não cederam ao milagre,
Mas dá
Pra enxergar o rastro dele,
E eu juro, juro que o teto não vai desabar.
Pra reparar o alastro das rachaduras,
É atrás do altar,
Atrás de todo o mundo,
Num lugar onde tem que enxergar fundo.

O templo vai ficar como está,
Em respeito à religião.
A respeito da jarra que quebrou,
Tem amor esparramado pelo chão,
Pelas aves, pelos umbrais,
E até por corredores que eu não alcanço mais.

Eu juro, juro que nada mais vai cair.
O templo parece que trova por vontade própria.

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