A qualquer momento alguém vai chegar.
Às luzes acesas, enxergo o que não há,
Rastejando,
Me impregnando devagar,
Feito sombra disforme,
Do breve momento de lucidez
Em forma de corpo,
Mesclado, monstruoso,
O delíro afetuoso
Da última vez.
Em meio a meu delírio, alguém vai chegar.
Se eu apagar as luzes,
Elas não se apagam.
Tens imagem de febre,
Até que eu sucumba
E do fundo da tumba,
Meu silêncio se quebre,
Calado, quente,
Talvez não aguente,
Porque achei que se não pensasse,
Não sonhasse, enterrasse,
Não seria o escuro tão visual
Ao que penso e sinto e fujo de medo,
E me salvaria apenas
Ir dormir mais cedo.
A qualquer momento, vou acordar.
Não tendo certeza do que sucedia,
Se invadiu-me o sonho
Da noite ou do dia,
Tenho ao sono, uma imagem cética
Estivesse a luz ainda acesa
De minha chama frenética,
Descansasse bem ou mal
Com tua visão,
Não há saída,
Não há sonho manso
Ou refúgio,
No descanso,
Se me és assombração.
Tanto faz se acordo,
Pois pensar já não me cabe
Até que a porta abra
Ou o dia acabe,
Sou refém carnal
De teu motivo obscuro,
Teu tímido murmuro
Bienal.
A qualquer instante, vou parar de pensar
Porque me tenho escondido,
Tenho usado de escudo
Uma desculpa que já não vale mais,
Porque já pensei em tudo.
Quando acabar o frio,
Estarei vendo,
Ainda tremendo,
Que em meu cérebro vazio há incivilidade,
E te clamo, conjuro, invoco,
Terror que me invade.