domingo, 29 de agosto de 2021

Desperto o cadáver que assassinei

A qualquer momento alguém vai chegar.

Às luzes acesas, enxergo o que não há,

Rastejando,

Me impregnando devagar,

Feito sombra disforme,

Do breve momento de lucidez

Em forma de corpo,

Mesclado, monstruoso,

O delíro afetuoso

Da última vez.


Em meio a meu delírio, alguém vai chegar.

Se eu apagar as luzes,

Elas não se apagam.

Tens imagem de febre,

Até que eu sucumba

E do fundo da tumba,

Meu silêncio se quebre,

Calado, quente,

Talvez não aguente,

Porque achei que se não pensasse,

Não sonhasse, enterrasse,

Não seria o escuro tão visual

Ao que penso e sinto e fujo de medo,

E me salvaria apenas

Ir dormir mais cedo.


A qualquer momento, vou acordar.

Não tendo certeza do que sucedia,

Se invadiu-me o sonho

Da noite ou do dia,

Tenho ao sono, uma imagem cética

Estivesse a luz ainda acesa

De minha chama frenética,

Descansasse bem ou mal

Com tua visão,

Não há saída,

Não há sonho manso

Ou refúgio,

No descanso,

Se me és assombração.


Tanto faz se acordo,

Pois pensar já não me cabe

Até que a porta abra

Ou o dia acabe,

Sou refém carnal

De teu motivo obscuro,

Teu tímido murmuro

Bienal.


A qualquer instante, vou parar de pensar

Porque me tenho escondido,

Tenho usado de escudo

Uma desculpa que já não vale mais,

Porque já pensei em tudo.

Quando acabar o frio,

Estarei vendo,

Ainda tremendo,

Que em meu cérebro vazio há incivilidade,

E te clamo, conjuro, invoco,

Terror que me invade. 

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