segunda-feira, 29 de junho de 2015

Peço desculpas pelo inconveniente

Os corredores estão vazios,
Eu também,
Você dorme.
As paredes mudaram muito
Desde sua última vez aqui,
Hoje ninguém vai te ver
Se você quiser vir.
Tem flores para você nas
        [paredes
E você não viu ainda.
Eu não quis ficar em casa,
Não tinha nada melhor para
        [fazer.
Eu achei que você fosse
        [embora,
Mas sei que ainda está
        [dormindo.
Peço desculpas pelo
        [inconveniente,
Eu fui ridícula,
Alguma coisa me consumia
E eu tive que extravasar.
Se estiver tudo bem,
Hoje eu ficaria feliz em te
        [esperar.
Os corredores estão desertos,
Ninguém vai te ver aqui hoje.
Gosto de esperar,
Eu tenho o dia todo
Até você acordar
E decidir se me perdoa
Pelo inconveniente.
Sempre esperei no fim dos
        [corredores
Porque quando estavam
        [cheios de gente
Estavam todos vazios dentro
        [de mim.

sábado, 27 de junho de 2015

Whatever will be, will be.

   Os dedos de Lúcia sabiam contar até dez. A mochila suspensa no guarda roupas a convidava a fugir das estrelas tanto quanto os ursinhos de pelúcia da estante pediam um abraço de consolo. Os sapatos de couro marrom com picotes florais clamavam por uma dança, mas Lúcia não sabia qual saia vestir. A vontade de perguntar à mãe se depois do dez vinha o doze ou o quinze contrastava com o onze piscante de uma das suas lembranças mais longínquas que o pré-escola.
   Lembranças estas que, ao olhar calado de Lúcia, pareciam tão distantes quanto uma outra vida. Tão bonitas quanto uma dessas fotografias antigas que as avós mostram aos netos.
   O passado era certo, apenas o futuro atormentava sua cabeça. Cada estrela de Lúcia brilhava como uma promessa, e a menina alcançava todo o céu e os confins do universo. A paz mundial, o fim da fome, a igualdade entre os gêneros, o fim do racismo e da homofobia, a cura do câncer, a sustentabilidade, o fim da corrupção, a libertação do sistema capitalista, a melhoria do ensino, o fim da solidão. Dava pra contar nos dedos. Dava pra alcançar nos dedos.
   Mas houve algum momento esquecido na vida de Lúcia em que o ânimo para levantar da cama nas geladas manhãs curitibanas e sorrir para os ipês amarelos desintegrou-se. Seu coração em muito se parecia com o tanque de gasolina de uma Ferrari no exato segundo em que todo o petróleo do mundo se esgotou.
   A morte parecia complementar ao olhar enrugado de Lúcia tanto quanto a desilusão parece à vida. Porque cada estrela que Lúcia luzia desintegrava-se no pensamento de levantar da cadeira e ir até a cozinha para pegar um café. Aqueles olhos negros assistiram ao apagamento de cada estrela até que o céu se pudesse refletir nas pupilas dilatadas do descaso. Pupilas que assistiram à morte matinal de todos os sonhos da meia noite e permaneceram caladas.
   E calada seguia Lúcia. Assistiu à morte da infância e já não sabia se a tinha vivido. Assistiu à morte das estrelas que uma vez carregara no colo. Assistiu à morte da mãe e já nem queria perguntar que número vem depois do dez para não gastar fôlego. Assistiu aos sapatos que queriam dançar e encarou-os imóvel. Contou outra vez até dez e, quando abrisse os olhos, tudo teria sido um sonho. Abriu os olhos e nada. Depois do dez vem o zero.

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Whatever will be, will be

quarta-feira, 17 de junho de 2015

My fears

Hey babe,
Look at the ground
And deeper
And lower
That's where I can be found
Before I find you

I'm tired of bleeding,
Of feeling mad
Tied to a past,
Too lost
To last
In my own hearth
And you've hit me,
And you heat me
But I don't want no hearth
        [stain,
I don't want to fall again
To the deepest floor of misery.

I've spent the last hours
Looking at your photo,
At your smiling eyeballs,
Digesting the hate
On such blasted walls
Escaping from the loneliness
That surrounds my life.

I might have been desperate
'Cause on you
I freak
And I feel weak,
I feel unstable
For being unable to fight love.

I'm miserable,
I don't want to miss it all,
Please make yourself safe
So I don't need to fear it,
So I won't lose my faith.

If we could only talk
Instead of stalk,
We'd be less afraid
Of knowing our mysteries
And blowing our miseries
On other's hug.

I feel like screaming your name
Against the wind.

Luto

Por favor, garota, não chora,
Já não é hora de olhar para trás.
Suplico que respondas agora,
Mesmo sabendo que minha demora
De um segundo foi tarde demais.
Abre de novo esses olhos nem que
        [seja para chorar,
Abre-os de novo e me lança aquele
        [olhar de quem morre
E tão logo, corre
Me abraçar.
Vomita o céu depaupero,
Vomita o teu cianeto
Enquanto vomito o meu desespero
Que sob a luz fraca das velas
Se esconde em meu manto preto.
Acorda! Levanta!
Sai da caixa que te empareda!
Não me obriga a ver a chama das
        [velas
Tornar-se labareda.
Por favor, garota, não chora,
Teu choro é canção enfática.
Abre já teus olhos ou choro eu com
        [a tua estática.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Bom dia

Ó bela,
Coração de parafina,
Aproveita o céu cinza
Para abrir teu coração
E tua cortina,
Doce e ranzinza.

Deixa, ao menos hoje,
Que a luz do dia
Traga brilho ao teu sorriso
De batom vermelho borrado,
Deixa a luz sombria
Acariciar teu rosto
Feito minhas mãos.

Gosto da chuva e do frio
Porque teu abraço é quente
E confortável
Preenchendo meu vazio.

Gosto do teu rosto nu,
Pois teu sorriso verdadeiro
Está nos olhos