terça-feira, 27 de outubro de 2015

Epifania púrpura

Ah, oceano, nefasto oceano,
Diz alto o que é a perda:
É uma marca ainda roxa
Na minha coxa
Da perna esquerda.

Eu não quero saber
Em que bares você arrasta as
                    [pernas,
Em que pernas você arrasta a dor,
Mas me diz:
Por que a minha dor me vence no
                    [cansaço?
Por que você é imaterial
No meu abraço?

Feito água que jorra ao chão,
Desabando ao oceano sou rio.
Você tem tudo o que quer,
Sorria.

Sou fria.
Porque eu morro demais
No calor que se me esquiva,
Quero qualquer sinopse,
Qualquer sinapse
De me sentir viva.

Ontem, ó oceano, ontem,
Ele me encarou pretensioso,
Deu um trago gostoso
E me acenou.

Águas passadas não movem
                     [moinhos,
Mágoas passadas não conduzem
                     [navios.
Que vertigem é olhar para o mar!
Se todos os outros lugares são
                     [epifanias
(Feito um convés onde tudo o que
                     [me resta é marcar os
                     passos doída),
Nada parece confortável como
                     [braços passados
Ou como o desejo
De me afogar.
                    
Então, eu disse a ele, me abraça,
Pra deitar a vida,
Me aconchegar recolhida
Até que o vento e os eventos
Também te carreguem pra longe de
                     [mim.

Queria, oceano, beijar tudo aquilo
                     [que desconheço
Para afogar de si esse corpo vazio
Que pende de proa a popa do navio
Que não quero deixar queimar.
Queria te beijar, oceano,
Porque cansei dessa viagem
                     [terrível
Pelas projeções que pertenceram a
                     [mim.

Ó ciano, nem tão vivo,
Marco meus passos e qualquer
                     [movimento
Há tempos.
Mas, eis que um dia, pisei tão forte
Que doeu a perna que nunca
                     [reclamou,
E, ao notar sob a saia marca roxa
Não desejei nada tanto quanto a
                     [morte
Manchando o chão com gotículas
                     [vermelhas,
Mas foi só vertigem
De olhar para as ondas que afligem
O meu reflexo, silentes.

De caída que arrasto minhas pernas
Ao primeiro lugar aberto
E peço qualquer coisa que pareça
                     [uma vida.

https://youtu.be/_q0laLr6vks

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