Ah, oceano, nefasto oceano,
Diz alto o que é a perda:
É uma marca ainda roxa
Na minha coxa
Da perna esquerda.
Eu não quero saber
Em que bares você arrasta as
[pernas,
Em que pernas você arrasta a dor,
Mas me diz:
Por que a minha dor me vence no
[cansaço?
Por que você é imaterial
No meu abraço?
Feito água que jorra ao chão,
Desabando ao oceano sou rio.
Você tem tudo o que quer,
Sorria.
Sou fria.
Porque eu morro demais
No calor que se me esquiva,
Quero qualquer sinopse,
Qualquer sinapse
De me sentir viva.
Ontem, ó oceano, ontem,
Ele me encarou pretensioso,
Deu um trago gostoso
E me acenou.
Águas passadas não movem
[moinhos,
Mágoas passadas não conduzem
[navios.
Que vertigem é olhar para o mar!
Se todos os outros lugares são
[epifanias
(Feito um convés onde tudo o que
[me resta é marcar os
passos doída),
Nada parece confortável como
[braços passados
Ou como o desejo
De me afogar.
Então, eu disse a ele, me abraça,
Pra deitar a vida,
Me aconchegar recolhida
Até que o vento e os eventos
Também te carreguem pra longe de
[mim.
Queria, oceano, beijar tudo aquilo
[que desconheço
Para afogar de si esse corpo vazio
Que pende de proa a popa do navio
Que não quero deixar queimar.
Queria te beijar, oceano,
Porque cansei dessa viagem
[terrível
Pelas projeções que pertenceram a
[mim.
Ó ciano, nem tão vivo,
Marco meus passos e qualquer
[movimento
Há tempos.
Mas, eis que um dia, pisei tão forte
Que doeu a perna que nunca
[reclamou,
E, ao notar sob a saia marca roxa
Não desejei nada tanto quanto a
[morte
Manchando o chão com gotículas
[vermelhas,
Mas foi só vertigem
De olhar para as ondas que afligem
O meu reflexo, silentes.
De caída que arrasto minhas pernas
Ao primeiro lugar aberto
E peço qualquer coisa que pareça
[uma vida.
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