sábado, 31 de outubro de 2015

   Eu amo essa foto.

   O peculiar da fotografia é que ela nutre os pixels de tudo o que não existe. Eu não consigo fechar os olhos e visualizar aquele sorriso que eu sei que é lindo. Já não é lindo porque eu olho pra fotografia e parece que ela não capturou tudo. E já não existe porque não está na fotografia nem em lugar nenhum, a não ser numa pequena faísca se dissipando que é a consciência de que um dia amei um sorriso. E a imagem também omite todos os pequenos detalhes que me fazem gostar de um rosto, mas só podem ser percebidos bem de pertinho. A existência de tudo isso morre em mim porque o meu cérebro não quis guardar detalhes desses pequenos detalhes na memória, apenas sei que existem.
   Não existe a pessoa que capturou o momento, e sim um resto de sentimento por quem eu não mereço ser desculpada.
   Nem eu existo ao lado da pessoa ao meu lado porque já morri e não consigo renascer: o meu cabelo já não é o mesmo, o meu sorriso já não é o mesmo e minhas roupas não existem mais.
   Nem o lugar existe porque a aura da ternura verte sangue inocente, e o sangue verte proporcionalmente das pessoas felizes da foto.
   Apenas o sorriso que não foi capturado por completo parece existir desde sempre, porque ele não muda em cada eco de realidade que retumba na minha cabeça.

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