Não é olhando pro espelho que
[percebo:
"Você está toda quebrada, querida."
Mas é ela: pergunta,
Sempre de dentro de mim,
O que foi que fiz dela.
É o frio
Batendo no gelo até trincar.
Ela treme, eu sorrio,
Como se a pouca felicidade que
[tenho
Dependesse do sofrimento dela.
É o frio:
Venta, venta, venta,
E o verão nunca virá.
Me deixo partir
Pra esfregar na cara dela
Que ela só fez merda
E a culpa é só dela:
Estou toda quebrada.
(Todos sorriem,
"O seu sorriso não tem nada de
[diferente,
Mas você nunca será uma deles."
Deve haver alguma fórmula
- que não ela, que está muito bem
[guardada a cinco chaves
na minha psiquê -
Que me diz: você não vai
Ser feliz,
Ter amor,
Ser um deles,
E eles... Ah,
Quão bonita é a vida deles no
[Instagram.
Até que sou feliz:
Hoje tomei um café,
Escrevi um poema,
Comi bem,
Dormi bem,
Não tive problema
Nenhum: de dinheiro nem de
[família.
O que mais caracteriza "feliz"?
Até que tenho amor:
"Eu te amo", ele disse,
Eu sei.
Que pena.
E daí?
Sabe o que eu sinto?
Tristeza. Dor.
Me ama. Eu também.
Mas e daí?
É com o meu "e daí" que me
[comovo:
"Você está toda quebrada, querida",
Deixa ecoar de novo.
Até que sou um deles:
Me cumprimentam e sorriem
[todos os dias.)
Ontem mesmo,
Lembro-me de ter ido deitar cedo,
Dormi das seis às sete
Da manhã de hoje,
Não foi difícil acordar porque o
[corpo estava descansado,
E não teria sido tão desagradável
Se não fosse no meu corpo e na
[minha vida.
Suspiro. De mim, sai mais frio:
Até quando?
Essa fadiga crônica de viver
Reduziu tanto minha expectativa
Que surpreende-me o agora.
E agora?
"Você está toda quebrada, querida."
SAI.
Você não existe mais.
Eu te vi morrer
Pelas minhas mãos
Pelo meu veneno
Pelo meu empurrão
Porque é fraca demais pra suportar.
Posso até estar quebrada,
Mas ele NÃO vai voltar.
E agora que eu nasci do teu ódio,
Quanto tempo vão durar
Meus sete anos de azar?
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