segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Poderia ter sido um soneto de amor

Eu sinto muito
Se esse for o nosso último poema
Se eu nunca mais quiser escrever sobre
Esses papéis que eu sempre rasgo depois
(Sob as mãos que tremem de frio);
Esse tal de nós dois.

Sinto toda a hora
E todos os dias,
Quase inerente à respiração,
Esse desolado medo
Desgarrado ao leito, da sensação
De que nossas mãos se afastam dedo a
                    [dedo.

Sinto saber
Que não foi a minha noite que estragou
                    [tudo,
E sim todas as outras em que chorei
Tua isolação carente,
Tuas lágrimas tímidas,
Tua presença ausente,
Onde estava você enquanto tentávamos
                    [ser felizes?

Sinto saber (sinto muito)
Que ainda vou sentir muito
Que ao menos eu, sei que sabia
O significado de pra sempre antes mesmo
                    [de dizer.

Sinto o sabor
De sorrir novamente
Porque a opção menos imoral
Foi trocar pelas pílulas teu amor
Tão material,
Tão contra o intuito,
Que querer tentar curar nossas dores,
Pra você, era muito.

Sinto saudades
De não sentir saudades
De saber que até que a gente tem jeito
Se eu quiser tentar,
Mas não quero.
Sinto muito se um dia
Eu acordar sem saudades de ti,
Nem ninguém,
Apenas saudade que faz bem,
Saudade de mim.

Eu sinto muito se assim como o poema,
Eu não fizer alarde de mim
Nem de nada
Nem esconder
Tanta letra ilegível.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Penélope

A lua não dorme.
Em seu brilho, resíduo
De astro maior resido
No oculto feixe,
No esperar perdido,
No esperar que a luz não me deixe
Também.

À lua, não dorme
A esperança heroica
E estou sempre conforme as macias
E lindas
Idas e vindas
Das nossas infindas tapeçarias.

É toda noite
A luz selene projetando
A cara solidão,
À cara,
O açoite a cada mão que desfaz os nós
Para não desfazer, Ulisses, nós.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

The basics of pharmacology

Now you're out.
I'm out of will,
Out of myself,
Willing any pill to get me recover
For I can't buy you at a drugstore
When you're over.

You've got some light you cannot see,
I used to breathe it.
But now that we're half lit up,
When you tell me to not give up,
Life's a light, but I can't believe it.

Still can't embrace you
For when sometimes we're over,
Still can't replace you.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Não te deixa

Não te deita
Pensando ao vazio,
Não aceita o pensamento frio,
Recusa-o ao peito,
De​ que não tens valor,
Ou beleza, ou jeito.

Eu sei que às vezes o ânimo é incerto
E que do alto, o chão
Parece mais perto,
Mas não te deixa acreditar:
Há muito mais céu entre o chão e o céu.

Não te deixa​ esquecer,
Não te larga,
Não te adia.
Não aceita a posse de toda essa carga
Que em dias ruins parece tão vazia.

Não deixa que o mundo acabe,
Eu sinto muito pelo ocorrido,
Por deixar eclipsar
A visão de sentido em tão denso pranto,
E sinto tanto
Que sei que em mim, nada acabou.

Então não me deixa
Estragar tudo,
Como em vezes quebro as coisas ao meio,
Como, de gritar, o anseio,
Como um verso.

Não te deixa baixar os olhos, porque enxergas cores lindas.

E nesse tempo de mudança,
Não deixa mudar a lembrança
Do que é o nosso abraçar.

Lembra
Que não importa a queixa
E que de ti, não há deixa.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

ALTER EGO

Acima dos marcos, das marcas deixados
Alguma sombra reflete-se, pouca,
Ascende essa tênue luz, ainda rouca,
Reside em espasmos fracos:
Meus resíduos cacos
Ainda espalhados.

Ao passo que se fez notável,
Tirou a razão para dançar, co-moveu:
O mesmo sorriso em nossas linhas;
O abrir dos olhos;
As mãos junto às minhas;
Cada vez menos cacos refletindo a dança
Entre minha imagem e semelhança.

Espalhados, meus cacos de espelho
Aderentes à face lisa
À sombra quiseram. Formaram, criaram
Imagem concisa
Do tempo
Do sonho mais belo
Que é meu universo,
Paralelo.

ALTERA INDE,
ALTER EGO,
Que é tão outro,
Quanto mais é outro,
Menos é eu.

Como oposto a todo meu movimento
Refletia-se como não fosse espelho
O que não sou eu, nem é sombrio
Toda a luz que falta
Ao meu vazio.

Fez-se,
Fazendo sentir mais a vida,
Fazendo sentir mais,
Fazendo sentir,
Fez-se feito feixe
A luz, e vi que era boa.

Como se desequilibra a assimetria
Da imagem espelhada,
Pende a luz de um lado do vidro ao outro,
Como o desespero por respirar durante o
                                      [afogamento,
Como se completam mãos,
E olhares,
E sorrisos.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Lizzie

   Não entendia bem aquela desatenção a tudo o que fazia. Porque não tanto tempo atrás fora pinxejinha do papai, e criquinha da vovó, e seu apelido soara com um carinho contrastante se comparado ao tom de costume em tempos recentes.
   O apelido foi a primeira mudança que notou. Soava como se a chamassem pelo apelido simplesmente porque a conheciam há muito tempo e esse costume fazia seu apelido soar patético. E como, em algum lugar do mundo alguma fada morreu quando ela disse que não acreditava em fadas, também se apagou o apelido quando pareceu que as pessoas não acreditavam mais em Lizzie.
   E também houve a ocasião em que saltitava pelo parquinho e alguma outra criança olhou com o cruel desdém à infância que têm aqueles que começam a entender que já são crescidinhos.
   E reparou que suas conquistas já não eram tão conquistas; talvez, no máximo, obrigações a serem cumpridas. E cobradas. E ela sentia falta não só do brilho imaginário da coroa - e não só da coroa - de pinxejinha, mas também do pó mágico, e do colorido que têm as roupas das crianças se comparadas às cores mortas dos jovens de sua idade.
   E notou também que, diferente da língua inocente das crianças, ao falar dos jovens misturam-se também o sarcasmo e a polissemia e a pretensão, e houve a ocasião em que suas palavras chocaram-se com estas. Disse aos amigos que não queria ficar mais velha. E respondeu nesse idioma novo e cheio de sutilezas um dos amigos que alguém, em algum momento na história da humanidade, havia encontrado a fórmula para perdurar a beleza da juventude. Mas, que beleza o quê? Ela se sentia muito mais como um Peter Pan do que como uma viciada em cosméticos. Um Peter Pan chocado com a pretensão no idioma novo.
   E tanto deixou de se notar seu brilho e genialidade da infância, que ela também desacreditou que existiram.
   Mas é claro que a maioria das pessoas achou tudo aquilo uma tragédia absurda, uma coisa que não se faz. E também teve quem achou bonito. Quando quem já tinha crescido a viu de novo, a água vermelha encobria considerável volume daquele humano adulto maior que a banheira. Não se deu conta, é claro, pois nessas alturas já não se pode dar conta de nada. Mas é fato que, em sua busca pela infância eterna, depois de banhar-se em sangue inocente, nunca mais envelheceu.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

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   As primeiras lembranças da minha vida estão dispostas num sistema de quadros mal dispostos pela vasta e desconhecida linha temporal do começo. O começo é um conceito quase indefinido, sim, porque não há evidência de que não tenha sido quando minha bisavó conheceu um cara, espanhol e bonito, por quem se apaixonou, e pelos caprichos da família teve que se casar com o italiano que foi meu bisavô, bem como não há evidência de que o começo está na juventude da mãe de minha bisavó, nem na minha avó, e nem precisamente no útero fecundado da minha mãe. E estas histórias que me precedem são feitas de lembranças com muito menos quadros que as minhas, visto que a fotografia se popularizou muito mais na parte do tempo pertinente a mim.
   Mas o começo é, precisamente, dejeto de uma fotografia da minha mãe com a barriga grande dos oito meses em evidência. E é esse o começo porque a narradora sou eu e é este o recorte que pretendo fazer.
   Não me lembro de nada, isso tudo me contaram os outros. São visões de mim: visões de um eu que não conheci, perspectivas de muitas pessoas que não são eu. Mas é apenas a partir disso que eu consigo entender onde foi que destrambelhou a minha vida.
   Dizem que o útero é confortável, nutritivo, aconchegante, e dentro dele não se tem noção do maior temor que assombra a vida: a morte. Eu não me lembro de ter nascido. Eu apenas existo, e acredito quando me dizem que nasci porque há registro de fotos de um bebê, e depois de uma criança, e depois de uma adolescente que na evolução de suas feições se parecem muito a mim. E são quadros distanciados demais para que se crie movimento suficiente para uma memória.
   A exposição à luz, à interação e à morte foram um erro imperdoável aos olhos fechados de um eu bebê. Alguns colos, por vezes, consolavam. Por outras, reinava o desalento. E hora a hora daquele estágio intransitável, começava a roçar a pele macia o tempo. A criatura egoísta, chorona, cagona e comilona entrou, então, em contato com o tempo, e este passou a doer menos, até a aquisição da linguagem e da consciência: eu sou uma criança. Não me lembro de nada, isso tudo me contaram os outros. Mas foi uma transição dolorosa.
   E a criança é rainha do mundo. E fora o nascimento, nunca se produziu angústia comparável à de ter que limpar o prato e engolir a comida que você não gosta, e de ter que limpar o bumbum sozinha depois de fazer cocô, e de não poder registrar sua expressão artística com as canetinhas na parede. Até aqui, não me lembro de nada, e relatei o que me contaram os outros.
   É mais ou menos a partir dessa transição, as memórias deixam de vir dos frames de fotografias e do que me contaram os outros, e sim da imagem aproximada que meu cérebro criou a partir de tudo o que já vi. E, embora às vezes com maior duração, nem sempre as memórias são tão contínuas como as recentes. São cenas isoladas e quadros perdidos naquilo que marcou o afogo.
   Minha primeira lembrança concreta da infância foi uma bronca que levei de meu pai. Me lembro da bronca em específico, mas não do delito. Meu pai me disse que o motivo foi a birra que eu fiz porque não quiseram comprar um chocolate, e eu não duvido.
   E quando eu tinha meus onze anos, chorava por ter que lavar a louça. E a infância nos é nostálgica porque está sempre sendo tomada uma liberdade: chega a hora de sair do útero, a hora de limpar o bumbum, a hora de ter que arrumar o quarto, e de cada vez ter direito a menos atividades prazerosas.
   A mais contraditória transição da qual tenho consciência é a da adolescência para a vida adulta. Porque chamamos a adolescência - ou a ela forçamos - "período de individualização". Mas o que nos golpeia, do nascimento à morte, é o abandono de todos os caprichos, e do tempo livre, e do nosso eu egoísta, e nos tornamos cada vez menos indivíduo e mais parte de um mecanismo maior. E na adolescência, entramos em contato com esse indivíduo anterior, para nos desassociar dele e entrar para a sociedade.
   Mas pouco a pouco mais quadros continuaram sendo produzidos mesmo apesar dessa transição conturbada que é tornar-se adulta, e alguns deles me fazem perceber que sou parte importante do mundo. Ou ao menos da parte do mundo com a que eu já tive contato; e essas são imagens que ninguém me contou: eu as captei com meus próprios olhos.
   E são cenas carinhosas, de quadros poucos, que isolam as situações em que não fui apenas eu, e sim nós. No menor número possível de quadros, é a textura macia da bochecha da minha avó e é o abraço da minha mãe. E toda a história da qual meus filhos não vão se lembrar, mas eu vou dividir com eles minhas imagens. Como, por exemplo, se eu fosse fotógrafa, eu teria registrado pra sempre o papai sorrindo pra mim de olhos fechados.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Disfunção

Há um sentido por trás da poesia e das paredes,
O objetivo uno, propósito de todas as coisas
E todos os saberes,
Na incoerência contínua
Da coexistência,
Um sentido aguçado que sabe a pimenta
- E o traço de seu sabor de meio mundo.

Impalpável,
Como o sebo que ocupa os poros, preenchendo;
Maleável,
Como o ar que preenche os pulmões nossos
E dá forma ao movimento;
Inquebrável,
Como são os tijolos
Conectados pelo cimento;
Há um sentido
Que cheguei a pensar que nunca mais sentiria,
Impalpável
Como a textura do bolo de fubá
Cuja receita morreu com a vó.

Coexiste o sentido
Como se sabe que cada coisa em cada retrato ou paisagem em movimento,
Como imagem ou substância,
É parte, por algum motivo,
De algum retrato ou paisagem em movimento;
Subsiste-se,
Química ou biologicamente, se constitui;
Como parte integrante de tudo,
Existe, e o todo flui.

Se me deixo procurar o sentido,
Eu o perco ou esqueço
Como não entendo do abacaxi meu rancor,
Nem da pimenta, meu apreço.
Tudo se desintegra perante minha tez.

O propósito é um propósito que transcende o tempo,
Mais rápido e mais devagar se movimenta
Como o pensamento que constitui
A minha placenta.
A dúvida de que tudo é real dura coisa de um minuto.
- Até que algum sentido me distraia
E eu já não pense nisso -
Mas a dúvida está ao canto,
Marcando presença no tempo omisso
Ao próprio tempo.

(A verdade de ontem é falsa,
Porque eu não lembro em detalhes do bolo que a vó fazia,
E ele não existe mais)

Impalpável,
Como o vazio preenchendo todas as coisas
E estas,
Química e biologicamente ainda coexistindo
E ainda palpáveis;
O sentido existe.

Talvez o sentido de tudo fosse o desejo,
Mas sinto
- A química me faz complacente -
Ao entender que às vezes tem textura de bolo,
E outras, tem nome de gente.

Achei que tivesse perdido
A poesia, as paredes,
O sentido
Até que o vazio primitivo
Complementou a frase sem resposta:
O verbo escrever é intransitivo.

O sentido de todas as coisas,
Sinestésico, estético,
Semercenário em minha habitagem
Está entranhado à antiacepção
De que a poesia é a maior disfunção
Da minha linguagem.



segunda-feira, 13 de março de 2017

Morrereis
Como pui a seda de vossa pompa
E derrete o gesso de vossas faces
E definha vosso império, traço a traço
E não se pode mais esticar as rugas
De vosso cansaço,
E não sabeis
Que rogais vossa praga,
Que salgais em vossa carcaça a chaga
E enxergardes reis
Nas translúcidas portas que dão para fora.

Adentro já se ouve.
Não me resta sequer irmandade.
Aos meus olhos, sois indivíduos,
Como peças de um quebra cabeça,
Um a um a nunca mais que isso,
Um a um todos reis,
Morrereis
Em vossos gritos que adentro se ouve
E afora se ignora,
Pois da vossa sede, o memento
Se marca nas rochas
Do esquecimento.

Morrereis
Como morre a caridade alheia,
Como leva o vento
Um castelo de areia.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Minha benção

Eis que mal disse algo.
Na verdade, calei,
Já que os calos também dóem por fora,
Embora, por dentro,
Amaldiçoei.
Bendito a maldito,
De meu bem insoluto,
Sobrava minha dor,
Do que é vivo, luto.

Meus rios desaguaram
Num vago oceano,
Meu rito, ondulado,
Das águas que incito,
Mudou o curso de tudo.
Meus rios divagaram
Num vasto oceano
E, enfim, aportei.
Maldito ou bendito?
Ao bradares do peito um outro mito,
Que cor tem tua cor?
Que cor tem teu grito?

Teu grito bem disse
Minha benção, não minto:
Tens todas as cores
Das águas que sinto.
Maldito, bendito,
De tudo o que medito
O saldo é o amor,
Meu amor é infinito.

Maldito, bendito,
De tudo o que é bonito,
Tu és meu amor,
E no amor, acredito.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A mãe e o mar

   A barra do longo vestido de canga azul quase se arrastava pela areia junto com os pés. Lúcia encarou o vasto mar escuro. Nem a maresia gelada que empurrava a água em suas violentas ondas até a praia, nem mesmo o céu cinza nublado, nem a força com que as ondas batiam nas pedras - e nos restos enferrujados de um trapiche em ruínas - cedeu sequer um pouco de sua força ou sua imposição ao mísero olhar desafiador de um mero mortal humano.
   Como se a moça o tivesse provocado, e como se tivesse aceitado a provocação, o mar trouxe pra perto algumas de suas criaturas que beliscam, suas raízes vermelhas e alguma tábua de algum naufrágio qualquer de outrora. Dizem que o mar é azul porque reflete a cor do céu, e que o céu é azul porque esta é a cor da imensidão, mas em frente à ponta do nariz de Lúcia se esparramava pela praia um mar negro e revoltado, chicoteando as pedras e invadindo a areia, umedecendo o ar e o chão e refletindo o céu cinza escuro que ameaçava chover e trovejar e tornava a cada segundo mais perigoso desafiar as forças da natureza.
   Nem mesmo os pescadores faziam vista. Nem mesmo os cães arriscavam explorar a restinga, e junto ao mar se podia ver apenas Lúcia e todas as criaturas e coisas que pertencem ao mar.
   Lúcia tinha raiva e medo do mar. Sua alma de velho o havia visto tomar os baldinhos e as enormes fortalezas de areia que construía enquanto cantarolava, os cavaleiros e peixes-espadachim que fazia surgir na praia vazia, as sandálias, a saudade e até mesmo a paisagem. Tinha um rancor de velho, e no vazio escuro das águas negras se acreditava como um velho e desafiava o mar infrutífero.
   O brilho estonteante que viu no mar poderia ser da lua que insistia em minguar por trás das nuvens. Ou então apenas mais um peixe. Tentando compreender a figura de longe, vasculhando por entre as ondas sonoras do mar, Lúcia detectou uma voz oceânica que entoava uma antiga melodia que a garota já havia cantado à beira da praia antes. E com a ousada curiosidade dos seus tenros oito anos de idade, levantou a barra da longa bata azul que era de sua mãe e encostou o pézinho no mar. Tinha a proteção do golfinho de henna estampado ao braço, da tornozeleira de miçangas e conchas e do tererê azul claro no cabelo, e perdeu o medo da água ao entender que se parecia muito mais com o mar do que com um velho.
   Foi a dois passos da linha de arrebentação que parou para imaginar se o brilho poderia ter sido de algum espadachim retornando, ou talvez uma sereia. Já a mãe, que a observava brincar, não teve tempo de entender que para a garota, o lampejo púrpura dos céus que castigou o mar e todas as criaturas em volta parecia algum tipo encantado de magia oceânica. E junto à umidade do mar e das lágrimas, tudo o que a mãe ainda podia ver eram todas as criaturas e coisas que pertencem ao mar.